2005-11-21

Os Adoráveis Homens das Neves, parte II















Ontem, das 22h à meia noite, estive em extase místico no Coliseu. Estive lá e não estive lá porque às vezes a música levava-te dali para fora, para auroras boreais, fiordes, catedrais, montanhas, para dentro de ti e nem os aplausos te faziam descer.
Um Coliseu repleto parou ao compasso da respiração de Jonsi em "Vithrar vel til loftárása" (a música com o célebre videoclip dos miúdos que se beijam) durante 15/20 segundos do mais absoluto silêncio: "A melhor coisa que Deus fez foi um novo dia."
Sigur Rós ao vivo foi uma experiência religiosa. Cinco mil fieis numa Igreja rendida.
Inesquecível.


2005-11-19

Frase da Semana















O João Bonifácio, do "Y", escreveu, hoje, num artigo genial:

"Madonna não é a rainha da pop. Essa é Robbie Williams.
À Ciccone cabe o papel de Rei. Robbie tem a pose de palhaço triste, adopta uma postura de puto rebelde, goza com a sua imagem de 'superstar', mas esse gozo é demasiado explícito (...). É uma menina, no fundo.
Madona, essa, nunca tem dúvidas (e raramente se engana). Pragueja, lida com o corpo como uma ferramenta automóvel, fuma charuto no David Letterman Show, faz crer que teve mais mulheres que um camionista de longo curso no fim da sua carreira de 65 anos, põe a mão no escroto por tudo e por nada: é o Rei. (...) Sempre controlou tudo, mas mesmo tudo, com mão de ferro, como um capo, um Don. Don Madonna com meias de rede."

2005-11-18

Desgraças Astrais

O Paulo Cardoso, qual Confúcio new age, já ditou a sorte para o próximo 2006. A coisa está tão má que só me lembra pragas bíblicas e o Charleton Heston a encher o Egipto de bichos que largam gosma.

"E a desgraça cairá sobre a tua casa.
E as bolas de fogo voaram à tua volta.
E a saraivada fará o teu telhado ruir.
E o bafo de 120 mil macacos putrefactos acordar-te-á na manhã de 1 de Janeiro. "

Diz ele nas privisões para o signo Touro do próximo ano (leiam e chorem):

"Sendo astrologicamente um dos Signos mais penalizados ao longo de 2006, é natural que o Touro sinta a presença de uma energia adversa oriunda de Júpiter, Saturno e Neptuno. Essa influência poderá fazer-se sentir de diversos modos: um ego demasiado inflamado, auto-indulgência e um optimismo pouco realista são algumas tendências que o nativo de Touro poderá experimentar. (...) É possível que tenha um comportamento extravagante, arrogante e não consiga ter uma noção muito concreta das suas próprias limitações.

Haverá tendência para procurar satisfação no dinheiro, nas posses, na aquisição de bens ou mesmo no prestígio social. (...)

Algumas desilusões, contrariedades ou uma mais pronunciada falta de vitalidade podem contribuir para que se sinta em baixo e que tenha dificuldade em repousar tranquilamente. Procure avaliar o seu percurso de vida, em especial a sua carreira, e se esse percurso está de acordo com os seus objectivos."

Portanto:
Vou ter o meu Ano da Cabra Arrogante e Presumida Filha da Puta Petulante.
Vou andar a esbanjar dinheiro que não tenho.
Vou ter uma fase Pimpinha Jardim.
Vou andar abaixo de forma e frustrada.
Não vou conseguir dormir nada de jeito.
Tenho que mudar de emprego.

Paulo Cardoso, onde quer que estejas, um grande bem-haja...
... e faz-me o favor de seres feliz.

2005-11-17

Volta Dostoyevski, a gente perdoa-te!

O Portugal possível, o Portugal sofrível, o Portugal risivel, deitou cá para fora mais uma das suas verdades escatológicas de cagalhão encarquilhado:
51% dos processos-crimes investigados pelo Ministério Público foram arquivados em 2004, diz o Portugal Diário. Dos mais de 722 mil processos movimentados, 370 mil foram directamente para a gaveta, sem parar na casa de partida nem receber dois contos.
Melhor: desta catrefada, só 12% tiveram despacho de acusação!

Se o crime compensar mesmo, é desta que me dedico ao cangaço ou a uma vida de bandoleira, "no meu cavalo alado, na mão direita o fado, jogando sementes nos campos da mente" e tal, como dizia o Ney.
Ai... Que saudades do Juiz decide!...

2005-11-15

Instaurem-me um processo disciplinar! Vá!...

Os torniquetes são uma clara violação aos acordos de Schegen e dificultam o livre acesso do proletariado aos seus postos de trabalho. Todos ao Terreiro do Paço, pelo fim destes mecanismos de repressão da classe operária!
Se tens mais de 18 anos, um volume revisto e anotado de "O Capital" e gostas de aventura... vem saltar connosco!











Torniquete
"A tômbola anda depressa,
Nem sei quando irá parar
-Aonde, pouco me importa;
O importante é que pare...
- A minha vida não cessa
De ser sempre a mesma porta
Eternamente a abanar...

Abriu-se agora o salão
Onde há gente a conversar.
Entrei sem hesitação
-Somente o que se vai dar?
A meio da reunião,
Pela certa disparato,
Volvo a mim a todo o pano:

Às cambalhotas desato,
E salto sobre o piano...
- Vai ser bonita a função!
Esfrangalho as partituras.
Quebro toda a caqueirada,
Arrebento à gargalhada,
E fujo pelo saguão...

Meses depois, as gazetas
Darão criticas completas,
Indecentes e patetas,
Da minha última obra...
E eu - p'rá cama outra vez,
Curtindo febre e revés,
Tocado de Estrela e Cobra..."

Mário de Sá-Carneiro

Vem aí o Natal. Coragem, fujamos!...




















A Outra Face da Lua, que muita gente conhece do seu cantinho original, ao Bairro Alto, pelos chás e roupa psicadélica que por lá se vendem (e mais a excelente oferta musical!), tem novo espaço, na Baixa. E abriram a pré-época natalícia: chamaram-lhe 'Runaway From Christmas', um evento que junta todos os novos designers nacionais que não têm onde vender as suas criações.
Assim, estão convocados todos os que odeiam a mole humana e acéfala que galga os centos comerciais nesta altura do ano (da qual eu acabo sempre por fazer parte...) e curtem roupa, gadgets e acessórios com um ar vintage e alternativo, da autoria de jovens designers. Esperemos apenas que os preços não sejam proibitivos.

Toca a reunir: dias 19 e 26 de Novembro; 3, 10, 17 e 23 de Dezembro, na R. da Assunção, 22, à Baixa.

Os Banhistas

Rebarba literária. Há 125 anos era assim, o erotismo:














"Twenty-eight young men bathe by the shore,
Twenty-eight young men and all so friendly;
Twenty-eight years of womanly life and all so alone.

She owns the fine house by the rise of the bank,
She hides handsome and richly drest aft the blinds of the window.
(...)
Where are you off to, lady? for I see you,
You splash in the water, there, yet you stay stock still in your room.
(...)
The young men float on their backs,
Their white bellies bulge to the sun,
They do not ask who seizes fast to them ,
They do not know who puffs and declines with pendant and bending arch,
They do not think whom they souse with spray."

Walt Whitman – Song of Myself

2005-11-13

Corações ao Alto

Esta posta é dedicada a quem me acusa de ser a autora de um blogue-fraude ("Para quem se chama Bicho do Ouvido falas pouco de música.."), aqui fica a posta possível e um mea culpa assumido: sim é verdade.
Pois quem me traz cá hoje (era bom era, sim, mas trata-se de uma figura de estilo...) é o David Fonseca. Motivos:
- Tem álbum novo há um mês: "Our Hearts Will Beat As One" (não se deixem impressionar pelo título lamechas...)
- Começou a digressão no Olga Cadaval, em Sintra, na sexta feira, 11 de Novembro, onde eu confirmei que não sou fã de concertos sentados, sobretudo daqueles em que mais de metade da plateia é convidada e nem sequer lá está por ser fã ou apreciador do artista.

Porque o artista... caríssimos... até é um bom artista.

"Our Hearts Will Beat As One" ouve-se de um trago, apanha-nos pelo intimismo das músicas, pelas letras bem esgalhadas – o que, quanto a mim, vale muito mais do que os vários exemplos de bandas nacionais que agora me ocorrem ( a mim e a vocês, aposto), as tais que se dizem guardiãs da língua e que, bem vistas as coisas, só conseguem nadar em lugares comuns, quer literários quer musicais.

Mas, quanto aos corações, meus amores...
Se misturassemos o sentido do bizarro do David Byrne com o lirismo das guitarras e das letras do Jeff Buckley e lhe juntassemos umas pianadas a la Coldplay, tinhamos qualquer coisa aproximada deste "Our Hearts Will Beat As One". Mas não é um pastiche, atenção.
Há pérolas como "The Longest Road" – orquestrações muito boas, uma melodia belíssima, uma letra linda ("You lie in you bed like a submarine with an open window letting the water in/ a voice in the choir...") – o raivoso e aMUSElhado "Open Legs Wide" (a minha faixa preferida do álbum, quanto mais não seja pelo refrão: "I open my legs wide, I'll show you some peace..."); "Cold Heart", o excelente "Bu-urn" ("Let's get our dirty clothes out of the way..."), "Swim" – que não sei se pelos pianos, se pelo título, me dá vontade de ouvir o "Night Swimming" dos REM –, "Hold Still" – o óptimo dueto com a teclista Rita Pereira (Atomic Bees), que faz lembrar muito Damien Rice e a sua partner em "O" – e a chave de ouro que fecha a coisa: "Adeus, Não Afastes os teus Olhos dos Meus".
Ok... o single também é bom... sobretudo, se estiverem naquele estado semi-catatónico entre o Dor de Corno e o Estupidamente Apaixonado. "For how long? How strong do I have to be? How come you mean that much to me?", diz ele. I rest my case.

No Olga Cadaval, David Fonseca conseguiu dois encores muito aplaudidos (e mais houvesse) e reverter um momento potencialmente embaraçoso – quando um palhaço qualquer, na fila da frente, vociferava impropérios numa sala pronta a descobrir o intimismo de "Longest Road" – num momento de empatia com o público, em que ainda conseguiu sacar umas gargalhadas á malta. Fez uma versão interessante de "Let's Stick Together" dos Roxy Music e ainda me conseguiu tirar do sério com uma voz potente na rendição de "Song to the Siren" do Tim Buckley.

Agora, meninos e meninas, é convosco. Corações em saldo; são dois pelo preço de um, fregueses. É aproveitar e ouvir. Enquanto está fresquinho.

2005-11-11

One Surprised Pussy















Digam olá à Emília, La Pussygata del Bicho, aqui apanhada de surpresa pelos papparazzi.
Tem dois anos e foi apanhada na rua com dois meses, quase a morrer.
O passatempo preferido dela é atazanar El Perrito Michón e pregar-lhe sustos de morte à entrada do corredor.
Deve ser a única gata no mundo com medo das alturas.