2006-01-30

Fenómeno


"Icicle, Icicle
Where are you going?
I have a hiding place when spring marches in..."

Tori Amos

Dizia a minha avó
- A última vez que nevou em Lisboa foi em 1944.
E os flocos em cairem em turbilhão lá fora.
Lembrei-me, de repente, de quando tinha cinco ou seis anos e vi cair o único nevão da minha vida, na Serra do Montemuro, na aldeia do meu avô. E de ficarmos isolados. E de isso não me importar nada, porque quando temos seis anos a única coisa que importa é ver neve. Eu, a rir muito, com os flocos gelados a aterrarem-me na cara, as mãos enterradas numa textura estranha, as botas a enterrarem-se na neve com um ruído surdo que me faz, ao mesmo tempo, uma impressão esquisita nos dentes.
2006, num domingo de Janeiro, às 15.10h, a frente fria passou-nos por cima, em Lisboa.
E as pessoas na rua tinham todas cinco anos.
Em 1944, a trança da minha avó, cheia de flocos brancos.

2006-01-25

Pensamento do dia

"Os homens procuram mulheres que já não existem. As mulheres procuram homens que nunca existiram."- Ouvida há dois atrás a uma terapeuta de casal.

2006-01-23

Hoje acordei (e ele era) assim

8.20 da manhã.
Atiro o despertador contra a parede, esfrego os olhos, vou aos encontrões às coisas até à casa de banho, meto-me debaixo do chuveiro...
...e, de repente, com um esgar de pânico, expressões como "freguesias por apurar", "boca da urna", "projecções", "sondagens", "maioria absoluta", vêm-me à cabeça.
Dupla miséria. Cavaco como presidente à segunda-feira é um suplício apenas comparável a ser obrigada a ouvir nove horas e meia de pan pipe moods. Só dá a vontade de afundar a cabeça na água do banho e ficar em suspensão durante uns dias.
Ou meses.
Pronto, nos próximos cinco anos.
O único problema é que, com o vapor de água, o Aníbal ainda aparecia, entusiasmado com manhãs de nevoeiro, montado num corcel e com uma placa de matrícula a dizer "O Prometido".
Ou era isso ou vestido de Santinha de Baltar.
Mas, ao contrário de outros velhos do Restelo (e do pessoal do Clube de Sueca do Grupo Desportivo dos Bons Dias), não estou muito preocupada com uma possível dissolução da Assembleia. Sócrates e Cavaco são uma união feita no céu.
Eu a eles concorria às Noivas de St.ª António.

"O Sério contra-ataca", mais uma criação genial d' El Gamiton, a conferir no Pires Voador

Lá em cima...


"... há planícies sem fim
Há estrelas que parecem correr
Há o Sol e o dia a nascer
E nós aqui sem parar numa Terra a girar..."

É vos familiar, a cançoneta?
Não foram Cinco Semanas em Balão, como o Júlio Verne queria, mas uma horinha de puro êxtase, a ver o sol nascer, o silêncio cortado apenas por jactos de fogo, horizontes longínquos sem Tom Cruise e o paradigma da paz entre as Montanhas Naukluft e as dunas vermelhas.
Assim,
ali,
aqui,
se encerra um ciclo.

2006-01-16

A Cor Púrpura


O Namib tem particularidades a mais para não ser um lugar especial. Dizem que é o deserto mais antigo de todos. Tem as maiores dunas da Terra. E areia vermelha, a perder de vista, por causa do óxido de ferro. O lugar ideal para acabar uma viagem de vida, portanto.

Há elefantes que se adaptaram a viver aqui. Por alguma razão os da Namíbia são tidos como os mais perigosos do planeta. Mas tudo se conjuga, faz sentido. Um velho ditado namibiano diz que aquele é o país que Deus fez com fúria. A gente chega aqui e percebe que sim. Percebe, sobretudo, a beleza que há na fúria divina.

Sossusvlei é o coração do Namib, um vale onde chegam, todos os dias, centenas de jeeps e autocaravanas carregadas de turistas transformados em lagostins à beira da desidratação. Aqui pode sair-se para uma caminhada a pé pelas dunas, nem que seja para perceber que levamos mais de meia hora a fazer um percurso que, normalmente, demoraria 10 minutos. O sol frita neurónios, os pés enterram-se na areia, o suor escalda-te a cara, os outros já lá vão à muito frente. E, sózinha, começas a pensar na vida logo nos primeiros 200 metros de caminhada. Mais meia hora de teste de resistência e ficas a perceber muito bem porque raio os antigos iam para o deserto e voltam de lá profetas: o calor derrete a razão, os olhos estendem-se até ao fim do horizonte e só se avistam um mar vermelho, o silêncio absoluto e total e, por instantes, a ilusão de que nunca mais um telemóvel, nunca mais um som, nada.Abutre em Kulala, ao fim da tarde. O Namib à distância de um bater de asas... com três metros de envergadura.

2006-01-14

Voando sobre um ninho de... cucos?


... ou antes, de tecelões comunitários. Ao contrário do tecelão vulgar, que constrói uma casa "quanto mais hight tech melhor" para conquistar dama que o avalie pelos dotes de alfaiate e arquitecto, nesta espécie são as fêmeas que constroem estes autênticos bairros onde se cria tudo a eito.

Cada ninho pode durar 10 anos, intacto.

J. Pimenta, roi-te de inveja...
Reserva privada de Kulala, ao fim da tarde de 30 de Novembro de 2005.

Lizard Queen



A Inês não precisava de comer, em África.

O sol chegava-lhe. Fazia fotossíntese.

A Inês era um imbondeiro.

Uma acácia.

She's the Lizard Queen, she can do anything...

2006-01-13

O Norueguês Voador

Andrew (o senhor da foto) é filho de um norueguês que um dia trocou os fiordes no Mar do Norte pelas areias de Walvis Bay. Agora ganha a vida a pilotar todo-o-terreno em passeios de turistas pelas dunas de Sandwich Harbour, a escassos 20 km de Walvis.
Trabalha com o filho, que não tem metade do seu arsenal de loucura saudável. Antes de uma descida íngreme, de marcha atrás, por uma duna enorme abaixo, gritava: "Are you ready guys?... ADRENALINE!"
Por uma manhã, em Sandwich Harbour, este homem mostrou-nos velhos esqueletos de tartarugas, focas moribundas, salinas do tamanho de prédios, vermes cegos da areia e outros bichos alienígenas e, sobretudo, as emoções de conduzir a alta velocidade no deserto. Uma amostra de Paris Dakar (aliás Lisboa Dakar).
Na foto, Andrew segura um melão !Nara – o ponto de exclamação corresponde a um estalo de língua, no dialecto local. Os nara mellons existem um pouco por toda a Namíbia e é deles que os bosquímanes e outros povos se servem para matar a sede no deserto ou na savana, quando não há água por perto.

Duna abaixo, com o Paulo Salvador no tejadilho, a fazer o filme

2006-01-10

"Eu não preciso destas emoções..."

A Sónia bem tentou ter paz mas a adrenalina vinha ter com ela de qualquer maneira.

2006-01-02

No More Miss Nice Girl!

Como diz o Der Überlende, quando não há tesão que haja ao menos força na mão!
Eu até queria ser democrática e garantir o direito ao anonimato por aqui, mas parece-me que se está a passar das marcas. Assim, não há condições para a prática da modalidade desportiva. É para todos a quantos a carapuça serve que abro o novo ano, com votos de bom ano, de que continuem a falar (mal ou bem) e a postar os vossos comentários.... só que, desta vez, assinados, por favor. Um bocadinho de coragem e honestidade não faz mal a ninguém. Saiam lá do armário, não custa nada. Ou então vão dar uma voltinha pelo ciberespaço, porque há mais quem escreva por aí.
Acabou-se a mama.