2005-11-13

Corações ao Alto

Esta posta é dedicada a quem me acusa de ser a autora de um blogue-fraude ("Para quem se chama Bicho do Ouvido falas pouco de música.."), aqui fica a posta possível e um mea culpa assumido: sim é verdade.
Pois quem me traz cá hoje (era bom era, sim, mas trata-se de uma figura de estilo...) é o David Fonseca. Motivos:
- Tem álbum novo há um mês: "Our Hearts Will Beat As One" (não se deixem impressionar pelo título lamechas...)
- Começou a digressão no Olga Cadaval, em Sintra, na sexta feira, 11 de Novembro, onde eu confirmei que não sou fã de concertos sentados, sobretudo daqueles em que mais de metade da plateia é convidada e nem sequer lá está por ser fã ou apreciador do artista.

Porque o artista... caríssimos... até é um bom artista.

"Our Hearts Will Beat As One" ouve-se de um trago, apanha-nos pelo intimismo das músicas, pelas letras bem esgalhadas – o que, quanto a mim, vale muito mais do que os vários exemplos de bandas nacionais que agora me ocorrem ( a mim e a vocês, aposto), as tais que se dizem guardiãs da língua e que, bem vistas as coisas, só conseguem nadar em lugares comuns, quer literários quer musicais.

Mas, quanto aos corações, meus amores...
Se misturassemos o sentido do bizarro do David Byrne com o lirismo das guitarras e das letras do Jeff Buckley e lhe juntassemos umas pianadas a la Coldplay, tinhamos qualquer coisa aproximada deste "Our Hearts Will Beat As One". Mas não é um pastiche, atenção.
Há pérolas como "The Longest Road" – orquestrações muito boas, uma melodia belíssima, uma letra linda ("You lie in you bed like a submarine with an open window letting the water in/ a voice in the choir...") – o raivoso e aMUSElhado "Open Legs Wide" (a minha faixa preferida do álbum, quanto mais não seja pelo refrão: "I open my legs wide, I'll show you some peace..."); "Cold Heart", o excelente "Bu-urn" ("Let's get our dirty clothes out of the way..."), "Swim" – que não sei se pelos pianos, se pelo título, me dá vontade de ouvir o "Night Swimming" dos REM –, "Hold Still" – o óptimo dueto com a teclista Rita Pereira (Atomic Bees), que faz lembrar muito Damien Rice e a sua partner em "O" – e a chave de ouro que fecha a coisa: "Adeus, Não Afastes os teus Olhos dos Meus".
Ok... o single também é bom... sobretudo, se estiverem naquele estado semi-catatónico entre o Dor de Corno e o Estupidamente Apaixonado. "For how long? How strong do I have to be? How come you mean that much to me?", diz ele. I rest my case.

No Olga Cadaval, David Fonseca conseguiu dois encores muito aplaudidos (e mais houvesse) e reverter um momento potencialmente embaraçoso – quando um palhaço qualquer, na fila da frente, vociferava impropérios numa sala pronta a descobrir o intimismo de "Longest Road" – num momento de empatia com o público, em que ainda conseguiu sacar umas gargalhadas á malta. Fez uma versão interessante de "Let's Stick Together" dos Roxy Music e ainda me conseguiu tirar do sério com uma voz potente na rendição de "Song to the Siren" do Tim Buckley.

Agora, meninos e meninas, é convosco. Corações em saldo; são dois pelo preço de um, fregueses. É aproveitar e ouvir. Enquanto está fresquinho.

2 Comments:

Blogger smallworld said...

Ok, deixaste-me curiosa. Muito mesmo. Eu fico sempre a pensar eh que este homem tem grandes ligacoes (connections, direi mesmo!), porque sempre que lanca um album, tem todas as tv's em cima dele, e mais nao sei que. Mas pronto, la que o artista eh um bom artista, disso nao duvido. Talvez peca o CD ao pai natal! Para levar para o Texas, na sela do meu cavalo. :)

12:17 da tarde  
Blogger Bicho d'Ouvido said...

IiiiHAAAAAA!
Sim, é uma boa banda sonora para os lonesome cowboys que há em nós.
Até porque... "even cowgirls get the blues."
Boa surpresa, ver-te por cá.
Beijos

12:53 da tarde  

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