2006-03-01

Tolans, Cisnes e Príncipes Estrábicos

A minha amiga Fonseca, camarada de quartel, já cá tem fora o nono livro. Chama-se "Clube das Encalhadas", tem a chancela da Caminho e já está nos escaparates há, pelo menos, umas duas semanas. Eu, por portas e travessas de contrabando, já tenho o "material" há mais tempo. Já lhe dei todas as vistas de olhos bem dadas, que não sou como o Prof. Marcelo nas suas supersónicas rubricas de livros ("Vi, gostei. Vi, Interessante abordagem. Li, genial. Li, uma merda. Seen it, donne it, got the t-shirt..."), já fiz figura de otária a rir-me alto nos transportes públicos, com gente a desviar-se de mim com medo de apanhar esquizofrenia; já entrei pelas conversas das personagens dentro a ter estranhas sensações de dejá vú. Apesar de ser altamente suspeita para dizer isto, tenho que partilhar convosco: é do melhor!
Ela chamava-lhe "o meu romance pimba!" (o livro começa ironicamente com um conversa que anda entre o surreal e o metalinguístico, com uma das personagens a sugerir isso a outra) e eu, confesso, tal como a mãe Fonseca, cheguei a temer pela honra literária dela.
Mas não.

O enredo:
O Clube é composto por três (pronto, quatro se contarmos com a Nance) primas prontas a fazer um abaixo assinado a Deus e a Hans Christian Andersen por lhes terem feito crer que existiam almas gémeas e princípes encantados. Barbie, Ana Sofia e Vanessa encontram-se à segunda-feira em casa do Conde Joca, solteirão experiente e inveterado, ele sim, senão um verdadeiro Conde, um autêntico príncipe dinamarquês (mas disto elas não sabem), que lhes dá uma visão das trincheiras inimigas, as rega de Coca-Cola e bolonhesa e lhes faz festinhas na alma. É há histórias de família, com meninas pálidas e defuntas a partir copos de cristal em bares de hotel e a assombrar Termas. E um baile fatal com Jaquinzinhos, Encalhadas e o Lago dos Cisnes em versão Alan Poe. E três cães com nome de tragédia grega. E crocodilólogos. E uma banda que podia ser a minha ex-banda, que não é uma banda, é um pesadelo sonoro e estético. E gente apaixonada. E gente desapaixonada, que pega na mochila e segue em frente ou emigra para os Açores para ter filhas pétreas e ouvir o chão tremer.
É um livro hilariante, muito bem escrito, uma tragicomédia com apontamentos de cinismo feminista, a piscar o olho inteligente ao estrabismo da Literatura Light. Fez-me rir muito. Mas, às vezes, também dava por mim lá, aninhada a um canto da sala com a lareira falsa, a comer bolonhesa e a bebericar cola, tão deprimida como elas.

O lançamento é amanhã, no Bairro Alto, no Tertúlia Jazz Bar, às 18.00h. O Mário Zambujal, que sabe de bons malandros e de corações piegas, vai lá estar a apresentar a coisa. Apareçam e/ou leiam.