2006-07-30

Ossos



"Show Your Bones" é o mais recente trabalho dos Yeah Yeah Yeahs, a banda novaiorquina liderada por Karen O.
"Gold Lion" é o primeiro avanço e começa com uma frase enigmática, que vai de encontro às tendências surrealistas dela: "Gold Lion's gonna tell me where the light is". É uma canção pop rock mais tradicional do que o som a que nos habituaram os YYY e outras bandas da cena de Nova Iorque (como os esquisitos e, esses sim, muito surrealistas The Liars, que passaram pelo palco do Super Rock Super Bock de há dois anos). A voz de Karen O, entre o rouco e o claro, ao desafio, gingada como uma rufia afinada, canta uma melodia simples e orelhuda, pontuada por um refrão minimalista de "Oho Oho's".
O resto do álbum é muito homogéneo, nada destoa, nada está fora de mão. São os alicerces que aqui estão. A fórmula "menos é mais". "Phenomena", "Way Out" e "Chetead Hearts" são alguns momentos altos. Não é aquela loucura sexy, dengosa, doce mas a rasgar de "Maps", o single que conquistou meio mundo há dois ou três anos, em parte responsável pelo meio milhão de cópias vendidas do primeiro álbum, "Fever to Tell". Mas, ainda assim, "Show Your Bones" é bom e coerente. A Rolling Stone dá-lhe 4 estrelas em cinco. Sobretudo, é música para os ouvidos dos fãs do indie fartinhos de ouvir que o rock morreu e que tudo o que aparece agora são mutações do som índigena feito em Nova Iorque há 25 anos atrás por pioneiros como os Sonic Youth.

Mais informação em www.yeahyeahyeahs.com .


Karen O, pela camara indiscreta do guitarrista Nick Zinner

2006-07-25

Crónica de uma Morte Anunciada


Já tem tradução para português (e que que tradução!), pela Dom Quixote, o novo romance de Salman Rushdie. Houve quem dissesse que, se misturassemos García Marquez com Shakespeare tínhamos "Shalimar, o Palhaço". Concordo. Só não gosto do título.

O enredo: não promete nada. Mas aqui o enredo não é importante.
Um antigo embaixador americano na Índia é assassinado à porta da casa da filha pelo motorista de origem muçulmana, Nomam Sher Nomam, a.k.a. Shalimar o Palhaço, aparentemente por motivos políticos.
Shalimar vem de uma aldeola em Caxemira, Pachigam, habitada por bandos de palhaços pantomineiros e cozinheiros alquimistas, uma Caxemira onde muçulmanos e hindús se dão como irmãos e aprenderam a viver as diferenças. Nesta aldeia de mulheres profetas, onde os mortos falam com os vivos, um rapaz muçulmano apaixona-se e casa com uma rapariga hindú... até ela dançar para um embaixador americano.
Pachigam está para Rushdie como Macondo está para os "Cem anos de Solidão".
É claro que o bom velho Salman não dá ponto sem nó – lembram-se de Versículos Satânicos? – e esta fábula mágico-realista acaba por ir dar, inevitavelmente, ao conflito entre a Índia e o Paquistão pela posse dos territórios de Caxemira. Mas não se preocupem, que nunca lhe foge a veia para a política... (ou será que sim?...)

Não sei como é que este gajo ainda não têm um Nobel por cima da lareira.

2006-07-23

Viagem ao Fim da Rua: Zezinha

Zezinha sobe ao quarto de pensão várias vezes por noite; a maior parte das vezes com homens da idade dela, destroços de vida como ela; outras com rapazes com idade para serem netos.
Zezinha queixa-se da garganta, está quase afónica; apanhou uma laringite, ou coisa que o valha, em pleno Julho, de passar as noites ao relento na Praça da Figueira. Veste um saia casaco preto, blusa branca, sapatos pretos de salto alto, toilette impecável. O corpo mirrado, débil, mas inteiro; a expressão doce, doce de avó. As rugas não denunciam nada. A expressão não denuncia nada.
Nos outros rostos das colegas de rua vê-se o ódio, vê-se o medo, o vazio, o nada. Mas Zezinha não é deste mundo e sorri-nos, cumprimenta com beijinhos, faz-nos festas com o olhar. Dá vontade de a levar para casa e de a pôr à lareira, a beber chá.
Zezinha pede a sua parte de preservativos (10) à equipa de rua. Deve chegar para o fim-de-semana. Queixa-se "Não há homens", sempre naquela voz sumida, de fantasma de princesa. Segreda que eles agora são uns porcos que só lhe pedem para fazer o indizível.
Um dia, a filha morreu-lhe. "Ficou transtornada e veio para aqui", contam-me. Já lá vão quantos anos? 50?... "Já é altura de parar com isto, Zezinha, de ir para um lar onde tratem de si..." Mas um lar era a morte para ela. Não, nada disso, nem pensar!
Zezinha tem 77 anos. Vai morrer na Praça da Figueira, palpita-me, a subir as escadas da pensão.
Olha para o relógio: já passa da meia-noite. O alento esvai-se. "Sim, acho que por hoje vou embora...", diz. O mais provável é que fique por aí até às seis ou sete da manhã.
"Haja corpo", escreveu um dia alguém sobre ela.
Haja corpo...

2006-07-22

À Traição

Estava eu à espera de autocarro na paragem, quando sou abordada por duas criaturas malévolas. Uma tem metro e meio, outra metro e vinte. Têm pelo menos 120 anos cada uma. Atacam-me à traição, rodeiam-me, sem me darem possibilidades de escapar.
Trazem folhetos profusamente ilustrados.
Trazem chapéus à tijela na cabeça.
Trazem artroses nas mãos.
Trazem-me o Reino dos Ceús.

"A menina sabe que o Paraíso na Terra já está em construção? E que Deus já está a trabalhar para acabar com a pobreza, a miséria, a doença e guerra?"
"A Menina sabia que o buraco de ozono já está fechado? Foi Deus que o fechou, li há dias na última edição da 'Despertai'."
"Gostaríamos de deixar consigo esta leitura para que possa constatar como estas maravilhas estão a ser feitas."

Aceito a leitura.
É sempre bom saber que Deus tem preocupações ecológicas.
É sempre bom saber que tem engenheiros a trabalhar no assunto.
É sempre bom saber que nos prepara um Paraíso Fiscal – vai-se, logo de manhã, mais reconfortada para o emprego.
Esperemos que Jeová contrate o Alberto João para gerir o sítio...

2006-07-21

Hoje...

... tenho o coração inchado de alegria.
Nasceu a Leonor, à meia-noite e meia, com 2.900kg, muito cabelo e rabujice, diz o pai Fialho.
Já escolhi a banda sonora para a chegada dela: Milanò, dos Sigur Rós.
I'm shinning all over...
Benvinda, Leo.

2006-07-04

Deus é Italiano...

... e entrou em campo aos 118 minutos.
Craques frescos, é o que dá.

Manger Beaucoup de Fromage...

Isto ultrapassa-me. A malta é arruaceiros, a malta é brigões, a malta é cangaceiros e malfeitores... a bifalhada ressabiada já tinha ido por aí, tudo bem. Nós até aturamos sites de ódio contra o Ronaldo, e os jogadores a arrastarem o nome do puto na lama, o Roonie a dizer que ele é uma puta reles e que não joga mais com ele e que não lhe empresta as Barbies e tal. Mas agora parece que os fromages perrignons também aprenderam a receita da destabilização pré-jogo. Rebery, o jogador dos "bleus", veio a público queixar-se de que somos muito violentos.
Mas eles já levaram no osso do Petit para mandarem pedras a telhados lusitanos? Falais de cor, sacré bleu! Esperai pela traulitada antes de falardes nela. Sem Petit, está certo, mas com outros e melhores trauliteiros e arrancadores profissionais de amarelos e vermelhos directos (Ronaldo e Figo são mestres).
Anda aqui alguém com maus figados, parece-me, e por isso aconselha-se a ingestão urgente de iscas à portuguesa aos gauleses, irredutiveis ou não. E na quarta vamos ver qual dos galos cantará, no choque de titãs Figo vs Zizou: o gaulês ou o de barcelos.

2006-07-01

Contra os bretões marchar, marchar!

Era esta a frase original escrita Por Henrique Lopes de Mendonça (substituída, mais tarde, por "contra os canhões marchar, marchar!) quando, em 1890, os nossos "mais velhos aliados" nos fizeram o célebre e famigerado Ultimato: ou abandonávamos as esperanças de construir o Mapa Cor-de-Rosa ou os gajos mandavam meia dúzia de barcos de guerra, estacionavam-nos em frente ao Tejo e rebentavam com Lisboa.
Tendências imperialistas à parte, trata-se de um velho combate de titãs e, por isso, mais do que nunca, faz sentido cantar bem alto 'A Portuguesa'.
Esperemos que, desta vez, não tenhamos que baixar as calcinhas como em 1890. E se voltarmos a casa, antes quebrar que ceder! Estamos em presença do grupo de futebolistas portugueses mais raçudos, combativos, talentosos e orgulhosos dos últimos 40 anos.
VÃO-SE A ELES, RAPAZES!