2006-02-23

"I wish I knew how to quit you..."


O que se passa dentro do coração dos homens?
Que exílios? Que privações? Que palavras entaladas na laringe, que raiva fechada nos nós dos dedos, nos nós da garganta?
O que se passa nos silêncios deles, na solidão à noite antes de adormecerem? Nos ecos dentro da cabeça, nos fantasmas a gritar dentro do armário, nos desejos adiados, no que há por viver? O que há debaixo do tapete, que se esconde por anos a fio sem que nele se tropece?
Foi preciso uma mulher – Annie Proulx, a escritora tardia que já passou dos 70 e que poucas ou nenhumas entrevistas dá – para ir ao fundo da gaveta arrancar a ferros a violência e a beleza de uma história onde um homem ama outro. Foi preciso um chinês realizar um filme de cowboys que faz o John Wayne dar voltas na tumba e um australiano com mais cara de surfista que de Marlboro Man.
Não é uma história de amor gay. Não é um "Romeu e Julieta", com Julietas a menos e Romeus sobresselentes. É uma história de amor e pronto. E como há muito eu não via uma, porque a impossibilidade e a tragédia são quase sempre os condimentos certos. Que o diga Shakespeare, que não pôs os dois adolescentezinhos borbulhentos de Verona, felizes para sempre, a morar num t2 do Cacém.
Proulx pode não saber o que cabe no coração de um homem, ainda para mais de um homem que ama outro, mas anda lá tão perto que assusta.
Conheçam Jack Twist e Ennis Del Mar.
Conheçam Ennis Del Mar, sobretudo. Abram-lhe o armário.

Afinal há vida em Marte...

2006-02-19

Tour Irmã Lúcia: "Eu Vou!"

Sem visibilidade, ensopados até aos ossos, apertanto furiosamente os rosários nos dedos, à catanada e à berlaitada aos vizinhos do lado que também tentam pôr-se em bicos de pé para vislumbrar a urna da Irmã Lúcia, disputando epifanias e escolioses, os crentes de Fátima não desarmam.
Os portugueses gostam de concertos e futeboladas. Por isso lá está também Roberto Leal. E chora. E conta histórias de quando quase viu Nossa Senhora na terra natal, Vale da Porca. Quando acabar a trasladação, provavelmente, cantará "Irmã Lúcia, eu estou aqui!", com coreografia.
Fátima Lopes também lá está, como estaria Oprah se irmã Lúcia fosse uma vidente zarolha do Arkansas. E, entre Lopes e Leal, há uma criatura, Maria Luísa, que ninguém sabe muito bem o que lá está a fazer, que fala em directo com a Irmã pela televisão, virando os olhos para ao céu, on acids, quem sabe patrocinada pelo Prozac, com a voz das madrinhas de guerra no Cantinho do Doente.
Cá em baixo, no "pontapé nas costas", no "pontapé na alma", os fieis pedem tudo a Lúcia, desde emprego para o filho até à paz no mundo. A hierarquia celeste tem mais um intermediário a quem fazer petições e subornar com preces. Até aqui se prova que estamos no país da cunha.
Do alto da sua penthouse em condomínio fechado celeste, talvez a Irmã Lúcia seja mais uma satisfeita cliente TV Cabo e os consiga ouvir a todos, em directo. Talvez programe uma tourné, no ano que vêm, para consolar a histeria de massas, o povo que clama por ela. Ela, a freira que tanto, tanto fez pela Nação, lá na clausura da sua cela do Carmelo de Coimbra, de onde só saía para votar e para mexer os pauzinhos para que a Opus Dei viesse para Portugal, segundo palavras do próprio Josémaria Escribá.
É estarem atentos aos cartazes: "Irmã Lúcia, num pavilhão multiusos perto de si."

2006-02-18

Bicho Maniento

Então... a Lua de Inverno chutou o desafio – enumerar 5 manias minhas – e eu respondo:

1) Sou incapaz de sair de casa sem música e qualquer coisa para ler, mesmo que não lhes pegue no autocarro. Até me sinto descalça...
2) Ouvir o mesmo CD, os mesmos mp3, durante uma semana consecutiva (ou mais!) quando gosto muito. Ouvir até fartar, várias vezes seguidas, até à exaustão... e depois passar para outro e estar meses sem ouvir aquilo outra vez.
3) Roer o polegar quando estou pensativa (e quando julgo que ninguém está a olhar para mim).
4) Ser incapaz de comer se estiver um prato de azeitonas mesmo à minha frente.
5) Deixar arrefecer o café durante 3 ou 5 minutos antes de o beber.

Passo o testemunho à Mafalda (Casinha de Botões), à Aikidora, à Dulcineia das Selvas, ao Pires Voador e à Dasha.

As Regras:
"Cada blogger nomeado tem de enumerar cinco manias suas, hábitos pessoais que os diferenciem do comum dos mortais.E além de tornar público o conhecimento dessas particularidades, terão de nomear cinco outros bloggers para participarem igualmente no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogs, aviso do "recrutamento". Além disso cada participante deve reproduzir este "regulamento" no seu blog."

2006-02-17

Escolham as vossas provetas!


Chamam-se We Are Scientists, são os nova-iorquinos Keith Murray (voz), Chris Cain (baixo) e Michael Tapper (bateria) e sim, estão ali na linha de Strokes, mas são bons, muito bons. O álbum de estreia chama-se "With Love and Squalor". Chegou-me hoje às mãos e queima de tão quente.
As geniais guitarras provam que, afinal, ainda há esperança para os riffs de rock. Excelente baixista, baterista cheio de bicho carpinteiro e de batidas inventivas na manga. A voz, afinada, à procura de uma briga, inconformada, a rasgar, não se fica pelos clichés monocórdicos em que as gargantas do rock alternativo acabam por cair, logo ao segundo álbum (veja-se o cansativo Molko dos Placebo, que eu adorava e para o qual estou a perder a paciência).
Os mais atentos à playlist da Rádio Radar já ouviram o single que abre as hostilidades no CD, "Nobody move, nobody get hurt", letra e batida sexys como um raio, a confirmar que nem sempre os rapazes bonitos são os mais divertidos. Eu rendi-me ao refrão: "My body is your body, I won't tell anybody... If you wanna use my body, go for it, yeah!"

Para além desta última, o Bicho ouviu, dançou e escaqueirou a casa ao som de: "This scene is dead" (faixa 2); "Cash Cow" (faixa 6), "It's a Hit" (faixa 7), "The Great Escape" (faixa 8), "Textbook (faixa 9; Oh deus! L'amour indie...)", "Lousy Reputation" (genial faixa 10) e do derradeiro "What's the Word".
O indie rock e os power trios estão vivos e recomendam-se!



"Não vai mais vinho para aquela mesa, fash'avôr..."

2006-02-10

Fraca memória e sardinhas esturricadas ou “Porque é que o Saramago devia tomar umas capsulazitas de Omega 3

Que a nossa liberdade acaba onde começa a dos outros, já a gente sabe. A bem dizer, é tão verdade, tão verdade, que não serve para nada. Até porque, "na hora do pau comê", ninguém se lembra mesmo desse princípio elementar da democracia e cada um puxa a brasa à sardinha da liberdade que melhor lhe cabe na cova do dente. O que vale é que:
– Em democracia, Estado e Religião são duas coisas diferentes.
– Em democracia, a liberdade de expressão, para o melhor e para o pior, é defendida na Constituição e um princípio de civilidade. Liberdade essa que também é muito prezada por senhores como José Saramago, que hoje vem dizer no 'Público': "O que me apanhou mesmo desprevenido foi a irresponsabilidade do autor ou autores dos desenhos. Alguns opiniam que a liberdade de expressão é um direito absoluto... A realidade crua impõe limites." A liberdade de expressão tem limites ao bom senso, sim senhor! Mas foi ela que lhe permitiu publicar "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" num Portugal paroquiano de há 15 anos. E que nos permitiu a nós insurgirmo-nos contra o Beato Salú do Sousa Lara quando este o impediu de concorrer a um prémio literário europeu com a dita obra.

"Toma lá a vaselina que eu baixo as calcinhas..."

Mas há outra coisa que me irrita tão solenemente como as orquestrações da Conferência Islâmica: O Freitas do Amaral a baixar as calcinhas da Nação, armado em Diácono e a dizer que não havia necessidade porque o artista, ai e tal, até é um bom artista, mas... a publicação era escusada. Se o Governo dinamarquês, que é o grande visado e prejudicado, já mostrou os devidos túbaros para dizer que não tem nada que pedir desculpas pela acção de um jornal, o que é que os diáconos europeus, com manifesta escoliose ideológica, vêm para a público botar faladura e disparar reais postas de pescada? Sobretudo depois dos fundamentalistas terem exigido pedidos de desculpa dos governos europeus e dos manifestantes islâmicos andarem para aí a chamar "cancro" à Europa e a dizer que "estamos é a pedir outro 7 de Julho" e "outro Holocausto". Mudaram de alvo agora, foi? O Bush perdeu a piada? Já estão com o sanguinho na guelra para mais atentados no metro à hora de ponta?

Eu, que até sou tolerante, que até acredito no diálogo ecuménico, que até me rendi à evidência que o Islão é uma religião de amor, que até falava da opressão do povo palestiniano e tal, que tanto me insurgi contra a direita conservadora que olhava com desdém "os esquerdoides da tanga que gostam de defender terroristas"... tenho que dar a mão à palmatória. Está-se a abrir aqui um precedente perigoso: "Peçam desculpas ou a gente explode-vos com o Padrão dos Descobrimentos, a Fontana de Trevi, a Torre Eiffel e com a estátua do Cargaleiro no Alto do Parque!"

Isto anda tudo ligado...

Sabe-se agora pelo New York Times que os protestos contra as famosas caricaturas satânicas, publicadas no dinamarquês Jyllands-Posten, foram programadas em Dezembro, durante uma reunião da Organização da Conferência Islâmica.
O embaixador dinamarquês no Cairo também já levantou a lebre: não percebe o porquê do sururú tardio, até porque seis das doze caricaturas já tinham sido publicadas, em Outubro, no Egipto sem grandes levantamentos de pêlo na venta, incêndios, embargos ou mortes. Tudo isto aparece só agora, numa altura crítica para o mundo árabe, quando se endurecem resistências ocidentais contra a questão no Irão, o regabofe iraquiano e as tentativas de democratização forçada de estados que até são... teocracias. Uma oportunidade fantástica, não?

2006-02-08

Oh, Happy Day!...


Messias Personalizados
Negras Estrelas
Coisas Preciosas
Meninas atrás do volante
Melhores amigos que nunca nos deixam mal
Strip-teases emocionais
Silêncios bem desfrutados
Tudo conta em larga escala

... e há 20 anos que eu não me consigo fartar deles! É hoje!

2006-02-07

Antes dos provocadores e dos incendiários

"Not Christian or Jew or Muslim,
not Hindu, Buddhist, Sufi or Zen.
Not any religion, or cultural system.
I am not from the East or the West..."
Mowlana Jalaluddin Rumi, pensador e poeta so sec.XIII

Era giro, não era?
E a gente a pensar que este era um tema do séc. XX e XXI...

2006-02-01

Gatim Moniz

Desculpe... era capaz de me ajudar aqui a desenformar a tosta? É que já me começa a doer aqui de lado e os mouros vêm aí...