"I wish I knew how to quit you..."

O que se passa dentro do coração dos homens?
Que exílios? Que privações? Que palavras entaladas na laringe, que raiva fechada nos nós dos dedos, nos nós da garganta?
O que se passa nos silêncios deles, na solidão à noite antes de adormecerem? Nos ecos dentro da cabeça, nos fantasmas a gritar dentro do armário, nos desejos adiados, no que há por viver? O que há debaixo do tapete, que se esconde por anos a fio sem que nele se tropece?
Foi preciso uma mulher – Annie Proulx, a escritora tardia que já passou dos 70 e que poucas ou nenhumas entrevistas dá – para ir ao fundo da gaveta arrancar a ferros a violência e a beleza de uma história onde um homem ama outro. Foi preciso um chinês realizar um filme de cowboys que faz o John Wayne dar voltas na tumba e um australiano com mais cara de surfista que de Marlboro Man.
Não é uma história de amor gay. Não é um "Romeu e Julieta", com Julietas a menos e Romeus sobresselentes. É uma história de amor e pronto. E como há muito eu não via uma, porque a impossibilidade e a tragédia são quase sempre os condimentos certos. Que o diga Shakespeare, que não pôs os dois adolescentezinhos borbulhentos de Verona, felizes para sempre, a morar num t2 do Cacém.
Proulx pode não saber o que cabe no coração de um homem, ainda para mais de um homem que ama outro, mas anda lá tão perto que assusta.
Conheçam Jack Twist e Ennis Del Mar.
Conheçam Ennis Del Mar, sobretudo. Abram-lhe o armário.
Afinal há vida em Marte...