2005-12-27

Quarto com vista sobre a lagoa


















Swakopmund. Lojas com letreiros em alemão. Gente a falar alemão nas ruas. Marisco a 3 vinténs. Miúdos de todas as raças a falarem a mesma língua numa Babel de baloiços e gritos. Uma mistura de Munique com Marraquexe e Costa da Caparica.

Walvis Bay.
Ruas largas e organizadas, que impedem o avanço do deserto em volta. Moradias à europeia. Camionetas de caixa aberta carregadas de operários negros em equilibrios precários.
Ao quinto dia, a civilização, outra vez, faz doer os olhos.
O primeiro contacto deixa-nos meio mudos, meio tristes, sonolentos. Então e o mato? Então e o remoto?
À noite, os pelicanos deslizam sobre as águas à volta do pontão.
Flamingos em equilibrismos complicados, na manhã seguinte. Basta abrir a janela sobre a lagoa e a varanda enfeitada de buganvílias. O ar fresco do mar, o frio nos ossos, a neblina matinal.

"Primeiro estranha-se, depois entranha-se", não era assim?

2005-12-21

Top Gun?...

Lima brinca aos pilotos, com o Mark a dar instruções via rádio: "Seal colony on your left, Joao..."
Matador, no?

Rosie

Um mulherão do caraças, esta Rosie!
Nasceu em Damaraland e era pastora, mas um dia percebeu que queria mais da vida. Começou a trabalhar nos Wilderness Camps da Namíbia como tarefeira, pau para a toda a obra, mas insistia para ir com os guias à séria, nas reservas: queria aprender, pedia que lhe falassem dos elefantes. Um dia meteu na cabeça e fez um curso de ecologia.
Hoje, é guia em Damaraland, trata os "trombas" da reserva por tu, e é uma figura tão respeitada que já a conhecem noutros campos da Namíbia. Periodicamente tem a responsabilidade de fazer relatórios sobre a população de elefantes em Damaraland. A sua boa disposição e sorriso contagiante já são lendários. "Um ser humano maravilhoso", comentou, mais tarde, o J.P., um ex-guia de caça que se rendeu ao turismo eco-sustentado e que encontramos no Deserto do Namib.
Quando conheci a Rosie, ela tentava içar o meu pesado saco de viagem para dentro do jeep, a uma altura de mais ou menos 1,80m. "Espere, não faça isso! Eu ajudo-a", tentei. Mas ela respondeu: "Já estou habituada. Antes, pedia ajuda aos meus colegas homens e eles diziam-me «Rosie, as mulheres emanciparam-se. Tu agora também tens de acartar malas». Tenham lá calma!... Emanciparam-se mas os homens continuam a ter mais força..."
A Rosie sabe o segredo de todos os animais, plantas e e calhaus de Damaraland. Passear com ela por perto é uma aula de História Natural, com a vantagem de ter crescido em Doro Nawas, uma paisagem agreste em que a única solução é mesmo aprender a respeitar o ambiente para retirar dele o melhor.
Como se não bastasse, tem uma voz que é um espanto.
Vamos ter saudades da nossa Rosinha Africana, como lhe chamava a Teresa.

2005-12-14

Damara-Dream-Land


A gente pensa: "Estou no Far, Far West...."
A gente pensa: "O Clint Eastwood vai entrar agora por aquela porta com o Bom, o Mau e o Vilão."
A gente pensa: "Vou derreter circuitos com este calor..."
Mas Damaraland é um deslumbre, com as suas montanhas de planaltos de filme de cowboys em alegre promiscuidade com o Out of Africa.

Tiptoe, o elefante que esteve demasiado perto de mim e me pregou um cagaço de morte

Estamos em território de elefantes, de bandos de avestruzes a correrem como tias loiras histéricas aos saldos, de bandos de babuínos como gangs de assaltantes na Linha de Sintra.
Em Twilfelfountain (A Fonte Duvidosa) há gravuras rupestres com 4 mil anos, de caçadores recolectores que foram mais abaixo, percorrendo a costa, e que desenharam pinguins de Magalhães, focas e baleias à mistura com girafas e elefantes, em grandes lajes de terra vermelha. Eram as lousas dos tempos de escola do Neolítico, provavelmente. Uma sala de aulas na savana. A estrutura turística montada à volta do local das gravuras ainda é deficitária (não há brochuras ou livros ou material didáctico para apresentar e os guias são lentos, chatos e vê-se que estão a fazer um grandioso frete) mas vale pelo pedacinho de História ao ar livre.
E à tarde, a querida Rosie (já apresento esta mulher fantástica mais à frente), a nossa Rosinha Africana, leva-vos de carro para admirar um maravilhoso pôr-do-sol numa colina (levem agasalho, que o ventinho é agreste...), patrocinado por uma bebida qualquer, como diz a cantiga, e desafia-vos as goelas para um serão de cantorias, mais tarde.
Na esplanada de Doro Nawas, ainda com o sol demasiado alto. Lá dizia o outro: "As nossas noites são mais bravas que os vossos dias...."
Na manhã seguinte... penduka às cinco e meia, para ver elefantes. Há uma população residente de cerca de 25, em Damaraland e é preciso uma hora de jeep até chegar a eles. Todos têm nome, posto pela Rosie e até por outros hóspedes do Lodge: eles são o Govenor, a Flora, o Tiptoe. Rosie desenhou-os a todos num pequeno caderno de bolso: os nomes, o formato das cabeças, das presas, das orelhas, das manhas, das crias.
A dignidade no porte, os olhos ternos, a certeza que, apesar disso, estamos perante um animal selvagem que pode investir contra nós e esmagar-nos ao mínimo descuido; a maneira como protegem os seus, o conceito de família que também têm... tudo te comove, porque este sim, este é o rei dos animais, um dos que tem mais pontos em comum connosco: choram os seus mortos, não perdoam afrontas, não esquecem um cheiro, não esquecem os lugares que são a "casa" do grupo (mesmo quando estão há anos sem lá aparecer), têm joelhos (!) e quando os dobram é em solene indolência ou quase em prece, como nós.

Flora e a sua cria... se a memória não me falha, que a Rosie é que percebe disto de elefantes.

E à noite, depois da Rosie e colegas vos encantarem com as poderosas vozes negras de coral e vos puserem a abanar o rabo ao som da "Amarula", deixem-se subir até ao terraço do Lodge de Doro Nawas, peçam para desligar todas as luzes menos os milhõezinhos de pontos celestes. Estendam-se ao comprido, voltem o olhar e os coração para o alto e deixem-se embalar, que o deslumbre é garantido e outro céu assim não vos aparecerá em muito tempo.
Aqui não há tempo para pedir desejos, de tantas estrelas cadentes a riscar o céu. De repente o Universo é um bar aberto e o Caçador segue o Touro que segue a Cintura de Orion, que se perde nas Nuvens de Magalhães que chovem luz prateada no céu de Doro Nawas (e o Mark, armado em Carl Sagan, de lanterna na mão, aponta-as e explica tudo...) e o Cruzeiro não alinha com o ponteiro da bússula. Aqui, amores, perde-se o norte porque o sentido certo é o Sul.
Não admira que três almas penadas mal tenham ido à cama, nessa noite, e abrissem goelas à confissão e o coração à Amarula. "Amaze to stumble where Gods get Lost, beneath the Southern Cross...", como diz a tia Patty.

Quem resistir à madugada será recompensado...

2005-12-10

Entre os Himbas


De manhã, ainda houve tempo para uma missão diplomática à aldeia Himba mais próxima do lodge, antes do voo que nos levaria um pouco mais para sul, até Damaraland.
Os Himbas são um povo de pastores semi-nómadas, um dos menos tocados pelas garras da civilização ocidental. Fixaram-se ali mesmo, nas terras desérticas e montanhas áridas do noroeste do país; algumas tribos passam a fronteira com Angola, ocasionalmente.
Os homens já andam com roupas ocidentais mas as mulheres ainda vestem e pintam o corpo à maneira tradicional. São elas quem mais impressiona, pelo porte altivo, pelo cuidado com os penteados feitos à base de argila, material que também compõe a mistura avermelhada com que untam o corpo para se protegerem do sol. Começam o dia a fumar nuns cachimbos curiosos. As casas em que vivem são feitas de argila e excrementos de gado. Tudo se aproveita...
Depois de meia hora a negociar bugigangas e artesanato com eles, traduzindo do inglês para o dialecto local e vice-versa (não falam inglês nem afrikaans), ouvimos o chefe da aldeia a contar em bom português as peças vendidas: "Um", "Dois", "Três"... Aprendeu "um bocadinho" em Angola, claro.
Moral da história: podes estar no maior fim de mundo, onde Judas se recusou a perder as botas, entre os últimos dos primitivos, com a certeza, porém, que alguém vai perguntar a certa altura: "É para usar já ou quer que embrulhe?"


Toda a gente conhece esta mulher em Serra Cafema. Chamam-lhe "Crocodilé" porque sobreviveu ao ataque de um crocodilo que lhe arrancou parte do peito.

A filha de "Crocodilé"

Duas crianças junto a uma casa himba tradicional

Paisagem Lunar com Oásis ao Fundo















Serra Cafema é o lugar mais remoto da Namíbia. Aterrar, por lá, no meio do deserto, equivale a uma alunagem, a um passeio na superfície de Marte. As montanhas, ao fundo na foto, já são parte de Angola. Praticamente não há estradas que nos levem lá; o acesso é feito quase exclusivamente de avioneta. O camião de abastecimento faz apenas uma viagem por mês ao lodge, construído lá em baixo, no oásis das margens do rio Kunene (que, por acaso, até está infestado de crocodilos). Da pista de aterragem, que nada mais é que uma planicie de areia e gravilha, até ao lodge vai mais de uma hora de jeep, que quase não se sente.


A Teresa e o Paulo testam os rigores do deserto.

O que leva uma alemã de Munique a mudar-se de armas e bagagens para este sítio esquecido é coisa que muita gente não consegue perceber. Andrea, fê-lo e hoje governa o Lodge de Serra Cafema. Se o intuito era esticar horizontes, aqui deve tê-lo conseguido. O contacto com a a civilização faz-se via satélite e pelos hóspedes selectos que por lá páram.
As regras de segurança são simples em Serra Cafema: nada de banhos de rio ou passeios a menos de três metros das margens, sob pena de servirmos de snack aos crocodilos.
Os bungalows têm todo o conforto e privacidade do mundo. É preciso ter cuidado com alguns mosquitos (nada que se compare a Caprivi, no entanto) e com as grandes aranhas que fazem as suas aparições nocturnas mesmo por dentro dos mosquiteiros que envolvem as camas. Nessa noite, as raparigas ainda andaram numa destemida caçada aos aracnídeos, provando que essa história de histerismo feminino frente a seres de multiplos pares de patas não passa de ficção machista.
À noite, é de perder tempo no terraço ou nas varandas dos quartos, a admirar o fantástico céu estrelado deste sítio único e quase exclusivo. Um previlégio único na vida.


No terraço do lodge os serões são estrelados e tranquilos. Não é preciso mais nada, nem sequer música ambiente. Acompanhem-se meteoritos e constelações com um copo de Amarula e dois dedos de boa prosa. Divino descanso!...


Três miúdas, juntas num bungalow, no meio do Paraíso remoto? É o sonho de qualquer tarado... Foi neste que passámos a noite de 29 de Novembro, não antes de termos encontros imediatos do 3º grau com algumas criaturas de oito patas e ar de poucos amigos


Inezita na varanda, vai formosa p'la verdura. Eram a assim as vistas para as traseiras do nosso quarto.

Serra Cafema ao pôr-do-sol, quase a tocar Angola.

2005-12-08

Dormir com os Leões

Parque de Etosha, manhã de 29, leoa prepara-se para ter gazela ao pequeno-almoço

Segunda noite: Ongawa Camp.
Um conceito muito interessante de turismo, apenas para os mais corajosos. Os gerentes são Cameron e Wendy, um casal sul-africano de origem inglesa que assentou arraiais no meio do mato com as duas filhas menores. A mais nova, Colette, só tem 10 anos. Diz que gosta de ali viver: "I get to keep 40 cats... lion cats!", diz com um sorriso.
No acampamento ninguém tem ordem para andar sózinho depois do pôr-do-sol. Só podemos ir para os bungalows acompanhados de guardas armados. Razão: estamos no meio de uma reserva de vida selvagem, com leões, leopardos, hienas, antílopes, e alguns rinocerontes ocasionalmente, a passearem-se por lá depois do escurecer. 100 ou 200 metros mais à frente do edifício principal há um charco onde os animais vêm beber ao fim da tarde. Não há razão para medos, se cumprirem as regras de segurança: os predadores não entram dos bungallows porque... têm medo das formas das tendas, pasme-se! Pelo sim, pelo não há uma sirene dentro do quarto, a usar apenas em caso de vida ou morte.
Nessa noite não ouvimos nenhum rosnar felino mas, não fosse o diabo tecê-las, as três meninas acagaçadas dormiram juntas. Dormir é uma força de expressão: quem consegue pregar olho com a possibilidade de ter um bando de leões esfomeados à porta?

No dia seguinte, despertar às cinco e meia (porque quem não penduka não manduca, minha gente!) para ir até ao Parque Etosha. É a maior reserva natural da Namíbia, com uma área total correspondente a mais de 1/4 da superfície de Portugal (22.270km2) e um lago salgado (o Etosha Pan), imenso, a ocupar 25% da área do parque, num total de 5mil km2, seco durante grande parte do ano.
Esta planície semi-desértica tem uma biodiverdidade incrível e é casa de várias espécies em risco de extinção, como é o caso do rinoceronte negro. O local ideal para avistar, sem grande esforço, quatro dos "Cinco Grandes" (os Big Five, como lhes chamam na Namíbia): leões, leopardos, rinocerontes e elefantes.
Aqui ficam meia duzia de amostras da nossa manhã.

Zebras e gazelas matam a sede

Quando este matulão chegou ao charco a voz da hierarquia fez-se ouvir e todos se afastaram

Orix e gazelas












Gnu; gosto mais do nome em inglês: wildebeast. Condiz...

Ao melhor estilo "As gajas que adiantem os morfes. Está-se aqui tão bem ao solinho!..."


Este camaleão está a precisar de levar a camuflagem às revisão. Problemas de identidade?

De tanto bater, o meu coração parou

Se forem surpreendidos por um pôr-do-sol semelhante,
parem o carro no meio da estrada,
abandonem-no ali mesmo, a estorvar;
andem uns metros, parem embasbacados em silêncio,
ouçam o céu a pegar fogo, a arder em lume brando,
entrem em êxtase místico,
acreditem em Deus, ainda que apenas por instantes,
e não se exaltem se derem por uma ou duas gotas a cair dos olhos.


Ongawa, perto do Parque Nacional de Etosha, 28 de Novembro de 2005, uns metros mais à frente da girafa

Porque é que a girafa atravessou a estrada?

(Pergunta para queijo)
Para nos deixar rendidos e em reverência, claro.
Ao fim da tarde, a meio caminho do acampamento em Ongawa. Prioridade aos peões, pois então, e silêncio... que a Rainha vai passar.

Luxo é isto...



Lodge Little Ongawa.
Capacidade: seis hóspedes, divididos por três bungalows cheios de bom gosto, com quarto enorme, casa de banho com vista sobre a savana, uma enorme sala, terraço com esperguiçadeiras, caramanchão com cama para dormir debaixo das estrelas e piscina.
€600 por noite, por pessoa.
Lotado de Maio a Dezembro e com uma taxa de ocupação muito interessante nos meses mais fracos, de Janeiro a Abril.
65% dos hóspedes europeus (britânicos, alemães, franceses, italianos e até espanhóis); 35% vêm dos EUA, Canadá, Japão, África do Sul, Singapura. Gente sem ter onde cair morta, portanto.

Alguém está interessado? Meto uma cunha...

2005-12-07

Mark

Foto: João Lima
Meninas, apresentamos o nosso piloto, o enigmático Mark Berry, a mistura possível entre o Crocodile Dundee e a personagem do Robert Redford no África Minha (ele aceita inscrições para lhes lavar o cabelo numa savana próxima...) Passou a infância e a adolescência em Etosha, no meio da savana e perto dos bichos, qual Tarzan Afrikaans. Talvez por isso tenha trabalhado primeiro como guarda e guia numa reserva natural. Só é piloto há três anos. Ninguém conseguiu perceber muito bem qual a idade dele.
Mark detestava que se mencionasse a palavra "vómito" no seu avião (e ainda o detestava mais à mesa, o que quase criou um incidente diplomático entre nós dois no penúltimo dia). Bulia-lhe com a honra de piloto, provavelmente. "There's no vomiting on this plane, on tuesdays...", disse no dia a seguir à Grande Festa da Tripa do Avesso, o voo de segunda feira que nos levou de Etosha para Serra Cafema e nos deu o cognome de Vomiting Team. Pelo menos tinha sentido de humor.
Aviso à navegação: "I'm a meat eater", ameaçava ele, definindo-se (cartão de apresentação para presas incautas?). Quando, à hora do jantar, lhe perguntavam se queria borrego ou porco e ele respondia "Both!", não estava a brincar, notem...

Na aldeia Lizauli


Não, não estamos no Carnaval de Torres. Após o safari matinal, visitámos uma aldeia local da tribo dos lizaulis. Bem, na verdade aquilo era mais o showroom aberto à curiosidade e aos dólares dos turistas. O senhor aos pulos é o n'ganga, o feiticeiro. Estavamos, portanto, na bicha para o atendimento no centro de saúde local, já com os cartõezinhos da Caixa na mão. Funciona melhor que o Serviço Nacional de Saúde e ainda tivemos direito a música. O n'ganga, ofereceu-se para nos descobrir todos os males do corpo e alma (a Inês, lá ao fundo, foi a escolhida para a inspecção).
As meninas Lizaulis ficaram malucas com o nosso Lima e o guia da aldeia (Elvis, de sua graça...) disse-nos: "That woman want's to buy him." Ainda tentámos vendê-lo por duas vacas mas a transação não se deu por medo do excesso de peso na bagagem, no regresso à Europa. Mulherada atarantada com os talentos (fotográficos?) do Lima. Mais tarde, o nosso rapaz diria "a frase do dia", em bom inglês para o Mark ouvir e para a galhofa geral: "The girls only like me because of my Canon..." Não faz a coisa por menos... Duas prespectivas da vida na aldeia; palhota e utensílios de cozinha.

"Maliba", chamam eles a este xilofone genial amplificado com cabaças, que eu quase quis trazer para Portugal.

Um rapaz mostra-nos como se tocam canções de amor Lizauli num berimbau de boca. Faz parte do ritual de corte dizer a uma rapariga o que quer que vá no coração do homem através destas músicas de amor cifradas, explicou Elvis. Quando querem casar, os rapazes Lizaulis manifestam a sua intenção ao avô e aos pais, que tratam de lhe escolher a mulher mais adequada. Elas não têm muito a dizer no processo. "Podem recusar um casamento?", perguntei ao Elvis. "Sim, mas depois têm que fugir para bem longe."

Happy Hippos


Encontrámos este grupito de hipopótamos num dos lagos à beira do caminho.
Parecem fofitos e queridos mas são o animal que mais mata naquelas paragens, avisou-nos o nosso guia, Vitalis. Por alguma razão os crocodilos não se metem muito com eles...
O grandalhão da primeira foto não tirava os olhos de nós.

Os bichos de Caprivi


E quem é que consegue dormir mais de duas horas na sua primeira noite no mato!?... Eu e a Inês só o conseguimos lá para as duas e tal, três da manhã, atentas a todos barulhos nocturnos indecifráveis, deslumbradas, numa caçada constante a todas as criaturas com asas. A mosquitagem não nos largava e a malta não quis arriscar paludismo à la carte. Afinal, Caprivi é área de risco para a malária: das nove espécies conhecidas, cinco são endémicas; é só escolhermos a nossa estirpe preferida. Lá fora ouviam-se sapos, milhões de cigarras, animais a entrar a e sair do rio em frente, restolhares estranhos, respirações, zumbidos e bater de asas de mariposas dentro do quarto. Até que se levantou a maior tempestade de que me lembro. Um dos raios caiu muito perto do Lodge e fez-nos saltar das camas.
O despertar ("penduka", como nos ensinou o Mark mais tarde) foi às cinco e meia da manhã e ficámos a saber à mesa do pequeno-almoço que o pára-raios tinha sido destruido há uns tempos atrás pela queda de um raio semelhante. O pessoal do Lodge tinha passado a noite a rezar à sucursal local de Santa Bárbara - Trovões, Relâmpagos e C.ª Ldª. , segundo nos constou.

Era uma primeira manhã namibiana muito chuvosa para ver animais, avisaram-nos. Mas não foi impedimento. Aves, gazelas, babuínos, elefantes e hipopótamos não fizeram a menor intenção de se esconderem. Lá fomos nós em direcção ao coração do "pequenito" Mudumu National Park (nem é muito grande; "só" tem 80.000 hectares), a área protegida onde se também se situa o Lianshulu Lodge.


Babuíno juvenil, o único que consegui apanhar de um enorme bando à beira da estrada


Um grupo de quatro ou cinco machos, regalados depois de uma chuvada. Fiquei a saber que nem todos os elefantes machos (bulls, como eles lhe chamam) são solitários.


Gazela de Thompson

2005-12-06

Espaço...


... é a palavra que melhor descreve África.
Espaço para tudo: planícies, desertos a perder de vista durante horas de voo. O Tempo a desmultiplicar-se nele (um dia não tem 24 horas mas, pelo menos, 36). Todas as coisas e criaturas assumem uma dimensão gigante, explodida. Até os insectos, do tamanho de dedos indicadores, que caíam na nossa mesa de jantar no Lianshulu Lodge, como pragas bíblicas, na primeira noite.

As nossas asas


Este Cessna foi o nosso autocarro por lá. Nele sobrevoámos quase todo o país, num total de 15 horas de voo, repartidas diariamente durante uma semana.
Vemo-lo aqui à nossa chegada ao aeroporto internacional de Windhoek, após 22 horas de viagem desde Portugal. O primeiro voo partiria logo a seguir, sem tempo nem sequer para um cigarrito, rumo a Caprivi, uma reserva natural no noroeste do país, já a entrar pelo meio da fronteira entre a Zambia e o Botswana. Foram três horas e meia de viagem, a maior, em que foi preciso desviarmo-nos de uma tempestade, com o estômago na boca, de tanto susto e abanão.
Nascia uma lenda: o Vomiting Team (a.k.a. Inês Mestre, Sónia Alves, João Lima e a yours truly, como não podia deixar de ser).